sábado, setembro 24, 2011

A chegada dos portugueses


O sol raiava no horizonte; o dia nascia. Não se sabia quantas horas eram, nem se sabia o que eram as horas. Não era preciso cronometrar o tempo; saber que ele passava era o suficiente...
O dia era formoso. Nem uma nuvem no céu; só azul se refletia nas águas do oceano. As ondas tranquilas iam e vinham conforme a maré. Seu movimento uniforme interrompido somente quando arrebentavam na praia logo debaixo do penhasco. Poucos subiam no penhasco. Então, a selva aqui era mais densa; mas melhor assim. Aqui, as árvores eram mais carregadas, os animais eram mais gordos, a floresta era mais verde, era mais viva.

Das alturas eu contemplava a beleza da natureza ao redor. O nascer do sol era lindo e calmante. Entretanto, sentia emoção ao ver aquele breve momento em que o astro e as águas se separam no horizonte.  Sentia algo eletrizante ao enxergar aquela fina e delicada, porém majestosa, luz, mais branca que os demais raios de sol, que define por um instante a linha que separa o sol do oceano, o céu da terra.

Que fascinação em observar o limite do mundo. O limite que aparenta nos separar de algo desconhecido. Que sedutor contemplar algo a mais do que vejo. Sedutor e aterrorizante também, como um sonho. Sonhar é algo desejável que traz prazer, mas quantas vezes já temi o que os meus sonhos me mostraram?

De repente, vejo uma forma estranha atravessar a luz. Não é miragem. Apesar de distante, é grande demais para ser ilusão. Aparenta ser rígido e pesado, de tal maneira que me surpreende ao não afundar. Como uma flecha é veloz. Como se carregada pelo vento corta um caminho pelas ondas. Observo algo jamais visto lutando contra a natureza. As águas tentam carregar a flecha para o mar aberto, até as ondas inevitavelmente dividirem-se, deixando-a passar e formando um rastro de espuma do mar atrás dela. Movimentos graciosos e potentes levam a flecha para mais perto da praia. A flecha se impõe debaixo do céu azul e eu me pergunto de onde surgiu tão esplêndida forma.

Será uma criatura marinha jamais vista antes que vem do outro lado da luz? A criatura se aproxima mais e agora parece que está revestida por um casco de madeira. Que criatura estranha. Agora ela já está perto da costa, passando por debaixo do penhasco em direção à praia. Consigo enxergar algo em cima do casco. Espanto-me ao ver seres tão parecidos a mim. Sim, muito familiares; todavia, muito diferentes também. Não vejo bem suas feições, só enxergo semelhanças mesmo longe de onde estou. Os seres estão cobertos de couros como se tivessem algo a esconder. Vejo vários puxando umas cordas longas pertencentes à criatura. Estarão esses seres domando esta criatura marinha?

A flecha para algumas dezenas de metros da praia. Meus companheiros da tribo já estão lá confusos, assustados, intimidados e, além disso, estão completamente mesmerizados por essas criaturas tão estranhas. Quero me unir aos meus companheiros e conhecer os seres, mas algum instinto me impede.

Aqui estou seguro. Todavia, minha curiosidade não me deixa em paz. Estou fixado em um ponto do penhasco sem conseguir me decidir. Algo novo, algo diferente está acontecendo. Bom ou ruim não sei, nem quero pensar sobre isso, só quero observar. Simplesmente não consigo deixar de adorar os fascinantes seres que cativaram meu olhar.

                                                                       
...Afinal, só porque não se marcam as horas não quer dizer que o tempo não passa. Não quer dizer que os tempos não mudam.      
Escrito por: Mariana Amaral

Nenhum comentário:

Postar um comentário