terça-feira, setembro 27, 2011

O Sonho


Era de noite, e os índios reuniram-se na praça central de uma aldeia Tupinambá: estavam todos preocupados com um sonho que o Pajé tivera durante sua sesta. Segundo ele, das águas do Grande Rio  sairiam homens que iriam mudar para sempre o destino de sua terra...
No dia seguinte, quando Guaraci, o Deus-Sol, estava apenas despertando, todos começaram a realizar suas atividades corriqueiras: mulheres colhiam frutas, homens preparavam suas flechas para a caçada matinal, crianças espantavam os pássaros que estavam de olho nas sementes da colheita. Algumas, porém, brincavam no Grande Rio e não sabiam do estranho sonho do Pajé.
Cecy, filha do cacique, era uma delas. Havia se distanciado do grupo ao colher belas conchas para confeccionar colares, seu passatempo predileto. Lá estava ela, sentada na areia, quando viu, bem ao longe, uma canoa. Uma canoa bem maior e de um formato bem diferente das canoas de sua aldeia. Seria mesmo uma canoa?
Corajosa, a indiazinha permaneceu imóvel, observando o estranho objeto que se aproximava da praia. Ele ia chegando cada vez mais perto e parecia ficar cada vez maior... até que parou. Dele saiu uma canoa, dessa vez bem parecida com as que Cecy já estava acostumada a ver; e o quão surpresa se sentiu quando nela identificou cinco homens, que a observavam ao longe!
A curiosidade era bem maior que o medo. A canoa aproximava-se, e a indiazinha esforçava-se para investigar os mínimos detalhes possíveis sobre esses cinco indivíduos. Estes pareciam tão surpresos quanto ela, e vestiam trajes sóbrios e de panos quentes. Devem estar morrendo de calor, pensou Cecy. Mas o que mais chamou sua atenção foi o tom de pele daqueles homens: eles tinham uma palidez nunca antes vista, e havia muitas manchas de sol em suas faces.
Quando desembarcaram, ficaram alguns minutos em silêncio, Cecy fitando os homens, os homens fitando Cecy. Até que um deles começou a falar para os outros em uma língua que ela não entendia. Soltaram um grito de bravura e seguiram mata adentro. O que parecia mais medroso fez um estranho gesto antes de seguir: tocou sua testa, depois seu peito, seus dois ombros e finalmente beijou seus dedos. Após isso, juntou-se aos outros quatro e desapareceu. O que significaria aquilo?
Ao perdê-los de vista, a indiazinha voltou a olhar para o Grande Rio à sua frente; mas, para sua surpresa, a estranha canoa não estava mais lá. Será que ela havia abandonado aqueles homens? Será que ela apenas foi atracar em algum porto seguro?
Será que foi tudo um sonho?

Escrito por Luísa Cruz

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