terça-feira, junho 14, 2011

Só de Sacanagem!

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva
o lápis do coleguinha",
" Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dá para mudar o final!

Elisa Lucinda

Esse poema é uma forte e direta crítica à corrupção brasileira, o que acaba prejudicando enormemente uma boa parte do país. A autora se manifesta como a "voz de um povo", que expressa uma grande indignação e falta de esperança em relação a esse grave problema presente em nosso cotidiano. Com essa situação, as mais diversas pessoas começam a se rebelar, gerando violência e falta de respeito em relação ao próximo.
O texto expõe a triste e perturbadora realidade que cada vez está se tornando mais normal roubar que ser honesto, mas também mostra que ainda estamos a tempo de mudar. Apesar da grave condição social do Brasil, continua existindo esperança para aqueles que têm fé em um mundo melhor.

Outro poema, "Oração dos Desesperados", de Sérgio Vaz, também mostra a indignação do indivíduo em relação a corrupção e outros temas. Pra quem mora em Brasília e vai fazer o PAS este ano, prepare-se, pois este poema vai estar na prova!
Dói no povo a dor do universo
chibata, faca, corte,
miséria e morte
sob o olhar irônico
de um Deus de gravata.
Uma dor que tem cor
escorre na pele e na boca se cala.
Uma gente livre para o amor,
mas os pés fincados na senzala.
Dor que mata.
Chaga que paralisa o mundo
e sob o olhar de um deus de gravata
doença, fome, esgoto, inferno profundo.
Dor que humilha e alimenta cegueira.
Trevas, violência, tiro no escuro,
pedaços de paus, lar sem muro,
paraíso do mal e castelos de madeiras.
Oh, senhores! Deuses das máquinas,
das teclas, das perdidas almas,
do destino e do coração!
Escuta o homem que nasce das lágrimas,
do suor, do sangue e do pranto.
Escuta este canto,
(que lido este povo!
quilombo este povo!)
que vem a galope com voz de trovão.
Pois ele se apega nas armas
quando se cansa das páginas
do livro da oração.
Dói no povo a dor do universo
chibata, faca, corte,
miséria e morte
sob o olhar irônico
de um Deus de gravata.
Uma dor que tem cor
escorre na pele e na boca se cala.
Uma gente livre para o amor,
mas os pés fincados na senzala.
Dor que mata.
Chaga que paralisa o mundo
e sob o olhar de um deus de gravata
doença, fome, esgoto, inferno profundo.
Dor que humilha e alimenta cegueira.
Trevas, violência, tiro no escuro,
pedaços de paus, lar sem muro,
paraíso do mal e castelos de madeiras.
Oh, senhores! Deuses das máquinas,
das teclas, das perdidas almas,
do destino e do coração!
Escuta o homem que nasce das lágrimas,
do suor, do sangue e do pranto.
Escuta este canto,
(que lido este povo!
quilombo este povo!)
que vem a galope com voz de trovão.
Pois ele se apega nas armas
quando se cansa das páginas
do livro da oração.

Postado por Mariana Amaral e Luísa Cruz

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